Ela está em pé, tentando encontrar suas peças de roupas jogadas pelo chão do quarto do hotel. Descuidada, tropeça numa poltrona, solta um palavrão...
Ele está nu sobre a cama, o dorso recostado nas almofadas da cabeceira e o ar divertido a apreciar a falta de jeito dela.
_Como uma mulher tão bela pode ser tão indelicada? - perguntou, dando-lhe um sorriso sedutor.
_Vai-te foder! - responde, tirando fios dourados que lhe caem desalinhados sobre o rosto.
Ele ri fartamente.
Em pouco tempo ganham a rua.
_Te encontro às 21h aqui mesmo no hotel, não te atrases, querida! - afirma em tom autoritário, como de costume.
Despedem-se diante do hotel com um beijo breve e tomam direções opostas da Rua das Amoreiras.
Ela atravessa a rua, apressada, retira o telemóvel da bolsa e liga para o chefe. Enquanto aguarda ser atendida, pondera dizer-lhe a verdade, que esteve numa cama de hotel com o homem a quem deveria investigar, o criminoso mais procurado do país. Soube sempre que a operação era delicada, que deveria se aproximar o suficiente para recolher provas contundentes, que a sua bela aparência deveria ser um leve chamariz para atrai-lo...
Um forte ruído interrompe seus pensamentos, desliga a chamada, corre na direção da azáfama.
Abre passagem entre a multidão apresentado sua identidade profissional, agente da autoridade policial. Aproxima-se, é ele, caído ao chão, acabara de ser atropelado. O socorro é imediato, surge uma ambulância em poucos segundos, ele é posto numa maca.
_Meu querido, vou ter contigo ao hospital, preciso apenas falar com o meu patrão, mas chego lá num instante - diz, tranquilizando-o. Vira-se para o socorrista e dá-lhe instruções sobre a internação, este lhe devolve um sorriso desdenhoso.
Caminha rapidamente em direção à base, um Café, localizado a poucos metros dali, intrigada com aquele sorriso enigmático do socorrista.
Na ambulância, ele se levanta da maca, senta-se.
_Filha duma puta, ordinária, era mesmo da polícia! - brada aos pulmões, mau humorado.
_Eu disse que lhe provaria, tinha certeza e ela caiu feito uma patinha na minha cilada - diz o falso socorrista. - E agora, o que pretende fazer?
_Anotou o nome dela? - pergunta ele, recebendo do comparsa uma folha de papel dobrado.
Vira-se para o motorista da ambulância e ordena que o leve ao Old Bar.
Sentados numa mesa do bar, sombrio e vazio para aquela hora da manhã, são atendidos pelo gerente.
_O mesmo de sempre, senhores?
_Hoje não, precisamos de um blackberry - informa, enquanto acende um cigarro.
O gerente consente com um gesto da cabeça e se afasta. Momentos depois, surge um jovem alinhado em terno preto, rosto magro e pálido, olhar inexpressivo.
_Meu gerente informou-me que desejam um blackberry? - interpele calmamente. - Para quando seria?
_Esta noite, por volta das 21h, no Dom Pedro Palace! - responde sem desviar o olhar do empregado em pé a sua frente, enquanto empurra na sua direção, sobre a mesa, o pedaço de papel dobrado.
_Com quantas pedras de gelo, senhor? - pergunta, pegando o papel e guardando-o no bolso do paletó.
Ele pensa um instante, solta uma baforada do cigarro, finalmente diz:
_Para ter a certeza que a bebida vai ficar fria, use o covert todo...
Eliane Barreto
Envolvente. Leva-nos mesmo à cena, quer pelo mistério em si, quer pela riqueza dos detalhes e, o melhor, consegue manter-nos desejosos de mais com uma escrita concisa. Sensacional. Parabéns mesmo.
ResponderEliminarAi muito bom! cadê a continuação?
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