quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Calmaria

 
lindo é o gesto de carinho secreto
partilhado num dia comum de setembro
sem festa, sem saltos altos e o cabelo revolto
 
lindo é o beijo dado na palma da mão
como um mimo que pudesse ser guardado
para ser gasto quando a ausência pesar no coração
 
lindo é a paz no amor sem interrupção
mesmo quando as declarações mais poéticas
surjam diante do abismo da separação
 
é lindo o mar se enrolando em ondas
quebrando em gotas prateadas sobre as pedras
mas é na calmaria das águas que o céu se espelha
 
 


domingo, 24 de agosto de 2014

Sentidos


será que lá no fim vamos entender o desperdício 
tantos desvarios, tantas distrações infinitas e vazias
são tantas as janelas que ficarão entreabertas
muitas músicas entoadas na imaginação do poeta
 bocas intocadas, valsas ensaiadas nos pés, sob a mesa
romances abotoados pelas mãos do receio, desejos em vão
ilusão de que tudo caminha na certa direção, mesmo sem vento
será que um dia, enfim, nos daremos conta 
de que sairemos todos pela mesma porta de entrada
que essa nossa estada, é somente uma visita
uma curta temporada, no palco da vida
que a nossa maior busca é a interna
que o cenário só nos complementa
que o amor não pode ser esquecido, adiado
é tão urgente, quanto breve é estar vivo

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ar


eu ando em círculos ao teu redor
ao sabor do vento das tuas vontades
eu penso que subo alguns degraus
mas nunca saio do mesmo patamar

eu vejo você ao alcance das mãos
e num ímpeto me lanço em teu destino
ciente do iminente perigo, lucidez em vão
e não resisto, como a traça que não evita a chama

você me queima, eu te queimo
não somos vítimas, tão pouco predadores
somos uma espécie de vício, algo bom
que só na overdose encontra o equilíbrio

não sei mais estar sem você, meu ar



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

1:1000


carrega-me de forma sutil, quase não me vejo
estou nas sombras de todos os teus pensamentos
no momento do riso, inconsciente procura o meu
só para que a insensatez de amar faça algum sentido

leva-me contigo, sobretudo na minha ausência
vê-me, sem explicação plausível, no reflexo do espelho
sentindo a saudade entrar em ti como faz o vento
impetuosamente, derrubando portas e paredes

quando amamos nunca mais somos só, nunca mais somos silêncio
dentro de nós, dois corações cirandam e latejam
mesmo que a distância insista em ditar o mapa,
o afeto redesenha, abusando da sua própria escala