quarta-feira, 21 de maio de 2014

Maria vai com as outras



  da janela observo um cotidiano em trânsito
passos apressados em todas as direções
um vai e vem urbano, quase mecânico
uma sinfonia, sem melodia e sem regente

vejo corações e almas, não vejo gente
nas gavetas, em casa, os sonhos intactos
esperam pacientes, um dia quem sabe
se quebrem as correntes e se alforriem

aí, talvez, não exista mais capitalismo
nem socialismo, nem anarquismo
só um bando de gente feliz
a viver do jeito que sempre quis

que o mal do século é ver o mundo usando filtros
e se deixar moldar em série, em cópias toscas do original
se angustiar pelos sonhos que não lhes pertencem
que lavam suas mentes em outdoors

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Lendas?

 
às vezes, as palavras se tornam abismos
em outras, surgem como balões de oxigênio
amar é um ato literal, verbo ao pé da letra
 
rendida a alma, em cárcere privado
naquele instante, sempre tua, nunca minha
e o corpo não desobedece, segue à risca
 o tom exato de cada nota, em cada linha

plainando quando lhe é permitido voar, serenamente
despenhando quando o vento cessa de repente
que me soprem, sempre, as palavras mais bonitas
que sejam ágeis e ariscas ao passar
quando as janelas estiverem entreabertas
 
que nunca me falte o ar que de você respiro
que não amar eternamente é que é utopia
e se entregar sem arreio, é só um pequeno exagero
que perpetua o melhor dos sentimentos
vinícius tem uma boa teoria, mas imagina o que diriam
tristão e isolda sobre o que é infinito!


sexta-feira, 16 de maio de 2014

12 por 8

 
ela quase se esconde atrás dos livros
preenchendo vazios com sonhos alheios
emaranhando memórias e fantasias
perdendo a verdade de vista
que se esbate feito um barco que veleja
 
e um dia, quando se lembra de levantar os olhos
procura com pressa um espelho almejando
encontrar o mesmo esquecimento
do tempo que não passa nos livros
o mesmo frescor que faz da bela, sempre donzela
 
talvez o fosse, intemporal, como os poemas
se das tuas veias jorrasse o nanquim, quando te magoas
 e perfume dos teus olhos, quando te emocionas
em grande ilusão nos vendam as palavras
se notar, ser imortal, é nunca viver