quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tramas

 
não queria voltar no tempo
nem revisitar os mais suaves momentos
queria somente ser ainda menina
para que me pudesse descobrir fêmea
tirar de mim todas as folhas
revelar minhas cores verdadeiras
tato e palato sobre a mesa
 
queria me encontrar nos teus olhos
quando fita o nada com deleite
pautar tua história com romance
entre o prefácio e o desfecho
ser a tua linha do horizonte
nem o antes, nem o depois
ser tua leitura mais demorada, o meio
 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Alba

 
 
é um lago onde gosto de me banhar
um leito quente e macio onde me deito
é uma lua no céu em noites limpas
um caldo quente nas noites frias
uma agenda inocente cheia de poesia
você é uma fantasia encarnada
um sonho que eu vivo acordada
você é uma mistura de luzes
alvoradas e poentes
sabores, aromas e quereres
 
 


terça-feira, 15 de abril de 2014

Uma poetiza feliz

 
se por tua causa eu parar de escrever
se nunca mais me abrigar da chuva
se permitir que a ventura assuma o leme
e os teus sinônimos me releem
 
o acaso será o meu caminho
a sorte minha estrela-guia
a felicidade, um certo destino
e você minha única poesia
 
 


Instrumental II

 
eu não sei mais o que fazer com as palavras
elas não mais me elucidam, antes me desorientam
confunde-me na essência, na falta de sentido
no caos em que cirandam, tropeçando em semânticas
 
não porque elas perderam o sentido
sou eu que não me reconheço mais nelas
são elas que não mais me cercam
nem rótulos, nem epígrafes e os tais finais felizes
 
não sei o que fazer sem as palavras
 meu canal entre o mundo e o espírito
o silêncio que trancafia os meus versos
num pedaço de papel que teima em ficar em branco

e se antes eu me sentia protagonista
agora sinto que aguardo na coxia
esperando o solo que me intervala
até que a fala se desabroche em novas rimas
 
 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Habitat

 
ser mais que tua
mais que a palavra pertença
consegue descrever
mais do que poderia
estar escrito num papel
mais do que alguma vez
fui de outro alguém
ser tão tua
e até mesmo
quando você não quer
 
o amor tem desses absurdos
 

terça-feira, 8 de abril de 2014

Libélula

 
era uma vez alguém que sonhava
enquanto os pés na areia marcava
mas o rastro não se desenhava numa linha reta
eram, obviamente, as pegadas de uma menina
 
e ela dançava
 
tão óbvio como as estrelas são femininas
a lua, a chuva, a ventania
tudo que soa a fantasia
tudo que desalinha o céu, os mares
e o coração dos homens
 
quando ama então, muito mais!