quinta-feira, 5 de junho de 2014

Em águas turvas

 
não pode o pincel sair ileso
de um desenho, na tela que ao fim chegou
sem ter as cerdas gastas, impregnadas de cores
e de memórias dos movimentos por onde se arrastou
 
não pode uma criança experimentar um doce
sem se lambuzar pelo tato até ao palato alcançar
sem provar todos os seus verdadeiros sabores
misturando-se à textura, cheiros e sensações
 
não pode um jogador disputar uma grande partida
sem macular as suas vestes com o suor do teu corpo
sem desalinhar cada um dos fios do teu cabelo
sem se entregar a cada lance, como se fosse o último
 
por que queres tu sair incólume ao amor?
sem sequelas de memórias, sem os efeitos colaterais do tempo
sem a saudade que faz os risos ecoarem de repente
sem o ódio que te enche de rancor e te cega...
 
 
 


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