imagino quão vazios sejam os teus porões
com quanto silêncio apedrejou os teus medos
para ostentar agora essa figura tão descolada
sem necessidade nenhuma de amar e ser amado
imagino quantas vezes se evitou olhar ao espelho
fez a barba de qualquer jeito
penteou com os dedos o cabelo
guardou na garganta todos os amargos
e deu bom dia a ela forçando um sorriso
observando a casa que ela esqueceu, desabotoada
enquanto se recordava da noite em que ela
escorreu da sua cama para o quarto ao lado
e ela seguiu todas as manhãs lendo os noticiários
para ofuscar o desconforto de um diálogo
e você aprendeu a escrever poemas
que joga pela janela, feito iscas no anzol
e o que deveria te salvar, te escraviza ainda mais
põe nesses poemas tudo o que tem a lhe dizer
e covardemente dedica às tuas vítimas inocentes
despertando novos amores...em vão
não vai além, nem sai de onde está, de fato não quer
escreve teus gritos em versos, algema-os no papel
ela sabe que tudo o escreve é dela, mas te espera
quer ser eleita a única da tua vida, quando já é
tenho pena do silêncio
do perdão que não chega
das palavras que não se fazem chaves
dos pensamentos que não se expelem
das bocas que não se amam
dos corpos que não se entregam
das chamas que não se apagam
mas que se deixam soterrar pelo cotidiano...
Sem comentários:
Enviar um comentário