terça-feira, 25 de março de 2014

Algodão doce

 
de volta aos papéis e aos lápis
e aos sonhos desamassados
que se libertam dos rascunhos
no fundo da gaveta guardados
 
de novo os pés me desobedecem
mal tocam o chão, de salto em salto
caminham por nuvens lilases
como se fossem camas de algodão

castelos de açúcar são tão reais
os de barro é que não existem mais
 


Coautores

 
apenas te espero
como quem espera uma carta de amor
através das janelas, para além da chuva
que atrasa o passo do mensageiro
e segura os ponteiros do relógio
 
com a ânsia de uma criança
que já virou moça-mulher
e deseja ser intimamente tocada
com palavras, das doces às ácidas
 
e então assim, pela carta
pertencer primeiro ao enredo do autor
que ao toque real das tuas mãos
 


quinta-feira, 13 de março de 2014

Ensaios

 
é tão bom quando você se entrega
 faz-me sorrir mais por dentro
do que revelam os meus lábios
faz brilhar mais o meu espírito
do que seriam capazes os meus olhos
faz meu coração ferver
mais do que suportaria o corpo
 
o que você provoca em mim
quando se entrega
talvez não seja visto
mas toque a minha pele
para você ver...
 
eu te mostro
 


domingo, 9 de março de 2014

sexta-feira, 7 de março de 2014

Tempo & Espaço

 
você procura seu próprio caminho
sua voz, sua paz
eu acho lindo essa busca
que vasculha os cômodos
do teu espírito, do teu ser
mas, amor, não busque os porquês
amar é mesmo um ato desmedido
puramente sem sentido
a razão não lhe faz par
não há como ser exato
num terreno tão abstrato
a única coisa que para mim
faz sentido
é sentir o que sinto
e oferece-lo a você
porque o violão mudo
é só uma peça de madeira e aço
o perfume no frasco
é uma fórmula aromática
de essências em átomos
é um pote de ouro
não encontrado
é um sorriso guardado
se o que me resta é
te fazer poesia
então eu faço
até que a tinta acabe
até que a rima se cale
até que o ponto final
faça sentido na frase
ou até que a vírgula
venha me socorrer
e eu possa continuar
a ser a tua poeta


terça-feira, 4 de março de 2014

Momentos

 
 

não há noites, não há dias
nem sombras, nem feixes de luzes
nem silêncio, nem música
 
não há sonhos, nem pesadelos
só a espera, o chá que esfria
 e a penumbra no fim da rua
 

Tática

 
esquece o que marca o passo
 o tempo
o  intervalo
o meio
 
é sutil
encontrar o ritmo
dos desejos
e alinhar os astros
no mesmo compasso
 
saber quando avançar
sem entrar nas casas erradas
nas emboscadas
 
é quase como um jogo
que não se joga
e estrategicamente
se vence
 sem ninguém perder em nada