quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Gesso


 

um sonho no meio fio
um verso pelo meio
um copo meio vazio, o outro meio cheio
 
a televisão sempre acesa
dois olhos vidrados
duas bocas caladas
duas páginas viradas
uma para cada lado
o epílogo sem enredo
 
lá fora a lua não é vista
e na tela tanto beijos
tantos romances sobre nós
 
a sós, dois pratos sobre a mesa
dum jantar feito à pressa
já sem tempero, sem amor


gelando o alimento
transpirando o vinho
evapora o afrodisíaco
no narcótico do silêncio
no gesso do cotidiano
tricotado a quatro dedos

 

Eliane Barreto