terça-feira, 30 de abril de 2013

Do outro lado do mar



existem tantos portais entre os mundos
eu digo a verdade, você diz jamais
eu cochilo nos seus ombros, você me observa
não entende porque colho as flores antes da chuva
e deixo os vestidos secos ensoparem no varal
 
eu falo sozinha com o espelho, você usa armaduras
não diz o que sente, eu sou inconveniente
não quero guardar os meus amores dentro do peito
nem quero deixar crescer as raízes sob os meus pés
sentir que pertenço às essas paredes sem teto
 
eu abro a porta para quem me chama
não sabe o meu nome, mas me trata por dona
me encanta tudo que é simples, descomplicado
a conversa fiada ao amanhecer, olhar para o céu
prever o tempo à toa, ser feliz, faça chuva ou faça sol
 
você vive preso à sua realidade, crua, fria
eu viajo todos os dias, atravesso os portais
beijo quem eu amo, dentro de mim mesma
sem sair do seu lado, eu já vivo do outro lado do mar
 
 
Eliane Barreto

Ensaio de uma noite imaginária

 
 
 
 
entre línguas de fogo e marcas na parede
estão as minhas mãos suadas, trêmulas
não sei de onde vem a luz que brilha
ouço a voz que sussurra no meu ouvido, meu ponto
à distância, na coxia ou do outro lado do mundo
e conduz os meus passos até o precipício
me empurra com força, de frente
para ver nos meus olhos o que sinto
enquanto o meu corpo é consumido pelas chamas
e sentir o prazer de me ter destruído
 
depois cola os meus cacos com saliva
monta peça por peça, artesão do meu desejo
e se entrega ao seu destino, baixa a guarda
sente no corpo a sede da minha vingança
que só com a boca te desfaço em mil pedaços
e assim as horas passam, o sol e a lua mudam de lado
ele é só um macho que domina a sua fêmea, no cio
ela, uma dançarina que faz do seu par coadjuvante, às vezes
e na troca de pele, os papéis desaparecem
o espetáculo termina, entre sorrisos e vênias
 

Eliane Barreto 

sábado, 27 de abril de 2013

A lua que te olha


A venda de dentro dos olhos


tudo à sua volta é falso
não vê as paredes ruírem?
na próxima chuva serão levadas
e quando o sol secar as suas lágrimas
nem a areia terá debaixo dos sapatos
que o vento se encarregará do resto
 
não sei o que está procurando
não vejo nada nos seus olhos
não ouço nada da sua língua
parece tão oculto, nem você avista
talvez esteja enterrado aí dentro
por isso suas mãos estão geladas
e já não se reconhece no espelho

me pede para não telefonar
que amanhã vai ser diferente
mas eu sei que me mente
sei que mente com todos os dentes
conheço a voz do seu demônio
as frases feitas que ele lhe sussurra
e você pensa que é a vontade do seu deus

acabaram-se as cartas do jogo
os prazos para pagar a sua dívida
o destino lhe espera do lado de fora
mas você insiste em ignorá-lo
em acender um cigarro apagado
e regar as suas as flores de plástico