quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Quando nem tudo precisa ser dito

 
você espera tanto por um sinal que venha do céu
que não observa o bote salva vidas que te oferece o mar
e você usa tudo o que te aprisiona como âncora
como se o medo bem guardado o tempo parasse
  
o vento não para, ele em tudo te ultrapassa
o balanço das águas te faz mutável, mesmo contra a vontade
um amor que escapa pelo dedos, é finito, não tem jeito
e por mais que se preserve a fotografia, ela sempre envelhece

 o tempo cura todas as feridas, por amnésia ou teimosia
e o que você pensa ser esperança, é a mais perigosa ilusão
mesmo se o vício em ser infeliz é que te faça companhia
 o fato é um verbo rasgado, um tapa na cara, aceite ou não



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Apenas outra teoria sobre tudo


Eu deveria estar trabalhando agora
mas não consigo, me abstraio de tudo
esse texto me chama e ele nem existe ainda
é um emaranhando de ventos e texturas
que me atraem, do outro mundo

e eu amo esse outro mundo, mais que tudo
sei do tempo, sei das sombras, sei das luzes
sei dessa experiência, sei das dores, das flores
das rimas, dos versos, das cicatrizes e das curas

devo estar aqui, andar pelas pedras, pisar o chão
ser matéria para lapidar a alma
ser prisioneira, para ser mais que livre
mas as estrelas, as luas, o crepúsculo...essa música
que saudades desse meu outro mundo

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Reincidente


não me compreendo
quando me reencontro no mesmo erro
sentindo o cheiro frio e úmido do limbo
gelando os meus pés e a minha fé

a pergunta que na mente ecoa
é como pude eu de novo vacilar
como num jogo de dados, cair outra vez na casa
que me regressa para bem longe da chegada

eu que prometo aos anjos e demônios
que dessa vez farei tudo certo
que a lógica terá a voz mais alta
me calo, sem que nenhuma palavra me defenda

é só o silêncio e todos os seus argumentos
o meu reflexo solitário na poça d'água
a velha e conhecida encruzilhada
que tanto faz o lado, é o fim da estrada


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Coisas imateriais


ainda me falta muito nesta vida
ainda um pouco de tudo eu diria
mais cheiro de terra molhada
mais banho de chuva gelada
mais encontros de amor na madrugada
mais fogos de artifício na enseada
mais flores fora da estação
mais primaveras invadindo o verão
 
ainda me falta tanto nesta vida
que já não uso nenhuma medida
guardei o relógio quando peguei a bússola
prefiro saber para onde vou, não quando
pois há tempos entendi que a viagem
vale muito mais que a chegada
que a estrada tem de ser apreciada
porque é nela que se escreve uma história
 
ainda me faltam coisas nessa vida
destas que não se deixam acumular
sorrisos de criança, lambidas de animais
beijos apaixonados, olhares que dizem obrigado
o prazer silencioso da meta alcançada
horizontes sob o luar, sobre a areia da praia
as mãos dadas com quem se ama
mas não a ousadia de querer sempre mais