segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nas sombras das dúvidas


ninguém pode ver
o que eu escondo até de mim
minhas tempestades pela manhã
ao acordar sozinha, ao teu lado
vazia, de sêmen, de amor
calada, aos gritos rasgados de dor
sabendo que isso não é certo
não pode ser certo, não pode
e eu sem coragem de fazer o que devo
nem de trocar o açúcar pelo veneno
no café que te sirvo, sem você sequer me ver
nem mesmo de sair pela porta sem levar as chaves
deixando para trás meus sapatos, os altos e os rasos
minhas peças mais íntimas, meus poucos vestígios
de uma época em que sabia ser tua mulher
do que se lembraria... do cheiro do meu cabelo?
do som do meu riso, dos meus gemidos, o que de mim?
fui deixando de existir, me esvaindo pelo travesseiro
virando de lado, como quem atravessa um oceano
 
 
                          Eliane Barreto

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